Associação Portuguesa de Investigação em Cancro
Projeto pioneiro em Portugal demonstra o potencial da autocolheita e de estratégias recordatórias no rastreio do cancro do colo do útero
Projeto pioneiro em Portugal demonstra o potencial da autocolheita e de estratégias recordatórias no rastreio do cancro do colo do útero

Um estudo pioneiro realizado na região Centro de Portugal, pela então ARS Centro em parceria com a Infogene, agora publicado no European Journal of Public Health, demonstrou que a integração de kits de autocolheita para teste do papilomavírus humano (HPV), acompanhada de estratégias recordatórias personalizados, aumentou significativamente a participação de mulheres que não realizavam rastreio há mais de quatro anos. Esta abordagem revelou-se uma estratégia eficaz e promissora para aumentar a cobertura do rastreio do cancro do colo do útero e melhorar a deteção precoce de lesões.
Autores e afiliações:
Sara da Graça Pereira¹, Luís Nobre¹, Marina Ribeiro¹, Patrícia Carvalho², Ana Morais³˒⁴, Rita Sousa³˒⁵, Ana Paula Moniz³˒⁶, Francisco Matos², Graça Fernandes³˒⁷, João Pedro Pimentel²˒³, José Carlos Marinho³˒⁸, José Luís Sá³˒⁵, Olga Ilhéu³˒⁶, Teresa Rebelo³˒⁹, José Fonseca-Moutinho³˒¹⁰, Hugo Prazeres¹, Rui Jorge Nobre¹¹˒¹² , Fernanda Loureiro²˒³
¹ Infogene, IPN Aceleradora, Coimbra, Portugal
² Administração Regional de Saúde do Centro (ARS Centro), Departamento de Saúde Pública, Coimbra, Portugal
³ Grupo de Trabalho do Cancro do Colo do Útero (GTCCU), ARS Centro, Coimbra, Portugal
⁴ USF Salinas, Cacia, Portugal
⁵ Serviço de Ginecologia, Instituto Português de Oncologia de Coimbra, Portugal
⁶ Serviço de Anatomia Patológica, Instituto Português de Oncologia de Coimbra, Portugal
⁷ Serviço de Anatomia Patológica, CHUC, Portugal
⁸ USF Santa Joana, Aveiro, Portugal
⁹ Serviço de Ginecologia, CHUC, Portugal
¹⁰ CICS-UBI, Universidade da Beira Interior, Covilhã, Portugal
¹¹ CNC e CIBB, Universidade de Coimbra, Portugal
¹² Instituto de Investigação Interdisciplinar, Universidade de Coimbra, Portugal
Abstract:
O rastreio do cancro do colo do útero (CCU) é fundamental para reduzir a sua incidência, mas alcançar todas as mulheres continua a ser um desafio. A autocolheita surge como uma estratégia promissora para aumentar a participação, embora a sua integração em programas organizados de rastreio seja ainda limitada.
Este estudo avaliou uma abordagem multimodal que combinou autocolheita, teste do papilomavírus humano (HPV) e estratégias de contacto personalizadas, visando alcançar mulheres que, por diferentes motivos, se encontram afastadas do rastreio convencional. Foram selecionadas 801 mulheres, com idades entre os 30 e os 59 anos, residentes na região Centro de Portugal, que não participavam no rastreio há pelo menos quatro anos. Após avaliação dos critérios de elegibilidade, 687 mulheres foram incluídas no projeto.
Seguindo um modelo “opt-in”, as mulheres que consentiram participar receberam kits certificados de autocolheita cervicovaginal para teste de HPV de alto risco (hr-HPV), da marca “o teste da mulher”. Foram implementadas diversas estratégias de contacto, incluindo telefonemas e cartas recordatórias, para incentivar a participação. As mulheres cujas amostras testaram positivo para infeção por HPV de alto risco (hr-HPV) foram encaminhadas para seguimento ginecológico.
Das 687 mulheres elegíveis, 307 (44,7%) consentiram participar e 198 (28,8%) colheram e enviaram as suas amostras para o laboratório, para teste de hr-HPV. Cerca de 60% das amostras foram recebidas após o primeiro contacto telefónico recordatório, enquanto as estratégias adicionais contribuíram para a receção de mais um terço das amostras. Entre os 12 casos positivos para infeção por hr-HPV, 11 compareceram à consulta de seguimento ginecológico, resultando na identificação de seis lesões cervicais.
Os resultados confirmam a viabilidade e eficácia da combinação de autocolheita, teste de HPV e estratégias de contacto personalizadas para aumentar a adesão ao rastreio entre mulheres sub-rastreadas. Esta abordagem tem potencial para reduzir lacunas de participação, melhorar a deteção precoce de lesões cervicais e contribuir para a diminuição da incidência de CCU.
Revista: European Journal of Public Health (2025)